Cristóvão e Tito



Era uma vez... Não, este conto não irá começar da forma habitual. Prefiro inovar um pouco.
Cristóvão é um monstro que vive numa gruta bem no centro da floresta mágica. Um sítio belo, cheio de cores vibrantes habitado pelas mais diferentes formas de vida. Fadas, bruxas (não, não são bruxas más e feias com uma verruga no nariz. Estas são bruxas luz, seres puros que mantêm o equilíbrio na natureza), anões, unicórnios, coelhos falantes e gigantes.
Como seria de esperar, Cristóvão era o único ser da floresta de que ninguém gostava. Tinha mau feitio e metia medo, muito medo às restantes criaturas. Era enorme, maior que os gigantes, era feio, muito feio e muito resmungão.
As fadas, no entanto, tentavam-se aproximar dele, mas sempre sem sucesso. Levavam flores, deixavam fruta fresca, legumes, presentes. Até enfeitavam a entrada da gruta com purpurinas mágicas.
As bruxas também tentaram a sua sorte deixando cestos cheios de gluseimas coloridas. 
Mas ele odiava e acabava sempre por afugentar as pobres criaturas com o seu rugido mal humorado.
Certo dia, um pequeno coelho chamado Tito perdeu-se da sua mãe enquanto brincava com um unicórnio.
- Mãe!? - gritava o pobre coelho enquanto tentava, desesperadamente, encontrá-la.
Correu por toda a floresta, perguntou a todos os seres mas ninguém tinha visto a sua mãe.
- Desculpa Tito, não vi a tua mãe em lado nenhum. - disse uma bruxa enquanto mexia um dedo ordenando a uma esfregona lavasse o chão. 
- Obrigado, vou continuar a perguntar se alguém a viu. - disse o pobre coelho.
Após algum tempo, Tito estava tão exausto que não se apercebeu de onde tinha parado para descansar. Estava mesmo à porta da gruta do monstro.
Cristóvão sai da gruta e depara-se com o coelho sentado a chorar.
- Sai já daqui! - Gritou o monstro.
Assustado pelo rugido, Tito levantou-se já preparado para fugir quando o medo de perder a mãe levou a melhor:
- Desculpe senhor monstro, eu perdi a minha mãe, estava a brincar e agora não a encontro. Eu sei que você é mau e não gosta de ninguém da floresta, mas queria saber se por acaso não a viu.
- Eu? Mau? Ahahahahaha- riu-se Cristóvão.
Tito ficou parado em frente à enorme figura sem saber o que dizer.
- Anda daí pequeno coelho. Vem comer alguma coisa, deves estar exausto.
Meio a medo, o pequeno coelho acabou por aceitar o convite e entrou na gruta daquele monstro assustador.
O interior da gruta era uma réplica perfeita da floresta. Cheia de cor e vida, com fadas e bruxas a brincarem pintadas nas paredes, os sofás em forma de unicórnio e uma série de quadros de coelhos e gigantes a sorrir de genuína felicidade. Aliás, um dos quadros captou a atenção de Tito. Era ele e a sua mãe quando brincavam ao quem salta mais alto.
- Uau! Que casa tão linda! E aquele sou eu com a minha mãe! - exclamou Tito totalmente siderado por tudo o que os seus olhos captavam.
- Senta-te Tito. - convidou Cristóvão.
Tito aceitou o convite e sentou-se ao mesmo tempo que perguntava:
- Como é que sabe o meu nome senhor monstro?
- O meu nome é Cristóvão. - respondeu a criatura enquanto enchia uma caneca de leite e oferecia uma bolacha de cenoura.
- Eu sei tudo sobre este sítio. Eu adoro todas as criaturas e adorava ter amigos. Mas sei que isso nunca será possível.
- Porquê senhor Cristóvão? - disse Tito intrigado.
- Quando olham para mim, só vêem um monstro feio e rabugento. Eles têm muito medo de mim, por isso é que estou sempre na minha gruta, para não assustar ninguém. Mas sinto-me muito sozinho. Não tenho ninguém com quem falar, não tenho um amigo com quem brincar. Gostava muito que me vissem como eu realmente sou, por dentro.
Tito estava em choque com toda aquela informação. Ele não fazia ideia daquilo que o monstro sentia. Até àquele momento.
- Ninguém devia estar sozinho. Todos devem ter um amigo. E eu vou ajudá-lo. - Tito estava determinado em mostrar a todos o quão bondoso Cristóvão era. Queria mostrar que, apesar do seu aspeto, era um ser puro e que apenas queria um amigo.
- Não meu bom Tito, eles têm medo de mim. Por isso é que eles acham que sou resmungão. Quando se aproximam muito de mim, eu rujo para que as outras criaturas não tenham de olhar para mim. Achei que se eles tivessem medo, não se iriam aproximar da minha gruta e assim não se assustavam.
Tito pulou até ao ombro do monstro e, juntos, saíram da gruta.
- Confie em mim senhor Cristóvão. Vamos dar uma volta pela floresta juntos para que todos nos vejam juntos e, assim, entenderem que não têm que ter medo de si.
- Não sei Tito. - Cristóvão não estava muito confiante com a ideia.
- Vamos, tenha fé em mim e acredite.
Deixando-se convencer pelo coelho, lá foram os dois rumo ao centro da floresta.
As criaturas, ao ouvirem o som dos passos do monstro, esconderam-se nas suas casas.
- Vês Tito? Não há nada a fazer. - Triste, Cristóvão pôs o coelho no chão com muito cuidado e preparava-se para voltar para a sua gruta quando um ramo se partiu de uma árvore.
O ramo enorme e pesado, caia a grande velocidade em direção da cabeça de Tito.
- Ahhhhhhhhh! - gritava Tito.
Cristóvão atirou-se e apanhou o ramo a centímetros de atingir o pobre coelho.
- Salvou-me senhor Cristóvão, você salvou-me.
Grato, Tito pulou até ao pescoço do monstro e deu-lhe enorme e sentido abraço.
-  Obrigado senhor monstro.
- Trata-me por Cristóvão meu amigo. Não precisas de ser tão formal comigo meu bom coelho. 
Tito olha diretamente para os olhos do monstro que cintilavam de felicidade.
- Será que te posso chamar de amigo pequeno Tito?
- Claro que sim Cristóvão, todos merecem ter amigos. Eu quero ser teu amigo. 
Nisto, a mãe de Tito que tinha visto o salvamento veio ao encontro deles.
- Você salvou o meu filho! - disse enquanto chamava o seu filhote para os seus braços.
- Não podia deixar o meu amigo magoar-se.
- Sim mãe, eu e o Cristóvão somos amigos e ele foi muito bondoso para mim. - entusiasmado, Tito não demorou a contar tudo o que se tinha passado.
Atentas à conversa, as criaturas que, até então, tinham estado escondidas, foram, a pouco e pouco, saindo das suas casas.
Uma fada, convidou Cristóvão para jogar ao quem se esconde melhor que aceitou prontamente com um sorriso nos lábios gigantes. 
A partir daquele dia, Cristóvão, o monstro assustador, não só ganhou imensos amigos como passou a ser tratado como igual pelas outras criaturas. 

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